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COLUNA DO MAGNO ANDRADE: Guiar para fora

Texto 9

Em minha última publicação aqui na rede Professores transformadores, relatei um pouquinho da história de minha avó, que, na altura de seus quase 60 anos, escolheu ir para a escola e aprendeu a assinar o próprio nome, deixando de sujar seus dedos todas as vezes que precisava de um documento.

Minha avó, por muitos anos, teve o acesso à educação de qualidade negado. As circunstâncias de sua vida se encarregaram disso. E assim ocorre com muitas pessoas Brasil afora: os acontecimentos da vida negam as oportunidades de acesso à escola para muitos.

Alguns poucos, como a minha avó, passam por cima de determinadas situações e reivindicam para si o direito constitucional de acesso à educação pública e de qualidade. Mas se deparam, às vezes, com um ensino tão distante de suas realidades que acabam desistindo dos estudos.

E isso não ocorre somente com os adultos, não! Por vezes, crianças e adolescentes também não conseguem relacionar o que veem na escola com suas vidas. O processo de letramento tão difundido por mestres, como Magda Soares, não é alcançado com êxito nas escolas, e isso pode acabar comprometendo todo o ciclo educacional dos alunos.

Já vi alguns colegas professores de Língua Portuguesa revoltados com seus alunos devido ao fato de eles não conseguirem classificar uma oração como subordinada adjetiva explicativa reduzida de gerúndio ou por errarem questões de múltipla escolha sobre a interpretação de Os sertões, de Euclides da Cunha.

Não há problema em discutir com os alunos tópicos gramaticais mais específicos ou propor que eles leiam cânones, como Euclides da Cunha. O problema é oferecer esses conteúdos para os alunos sem relacioná-los às suas práticas cotidianas. Ou, pelo menos, criar, nos estudantes, o desejo de aprender aquilo.

Minha avó dedicou-se ao que estava aprendendo porque sabia que aquilo iria agregar muito para sua vida. E é isso que devemos criar nos nossos alunos: desejo por aprender, de discutir, de construir, de conhecer aquilo que é novo. Afinal, educação, etimologicamente, é o processo de “guiar para fora”.

O acesso à educação não é negado somente fora dos muros da escola. Como educadores, temos, sim, que oferecer aos alunos os conteúdos (afinal, somos regidos por uma série de Leis e Diretrizes que nos orientam quanto ao que trabalhar em sala de aula), mas que possamos convidar nossos sujeitos a participarem do processo educacional como protagonistas que se interessam em construir aquilo que está lhes sendo proposto.

(Eu sou o Magno Andrade, um jovem professor transformador e fora dos padrões, que acredita que uma educação pública, democrática e de qualidade é direito de todos e fonte para uma mudança social.)