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COLUNA DO LUIZ RIBEIRO: Já vejo luzes brilhantes

Texto 19

Não sei se os demais professores notaram, mas já estamos convivendo com o clima de Natal. E isso me angustia tanto! A sensação de que 2017 está acabando traz à tona um senso de avaliação desse ano que, prestes a acabar, como sempre, parece que passou muito rápido.

Minha mesa de trabalho possui um montante de provas, trabalhos, textos, artigos: materiais que meus alunos produziram ao longo das disciplinas que leciono. Alguns, noto que tiveram carinho em fazê-los, seguiram as normas acadêmicas, zelaram pela ética e estética textual, se empenharam, recorreram aos estudos para produzir, mas outros... Às vezes, dá até preguiça de ler!

Sim! É sinceridade quando digo que a falta de empenho de alguns alunos na produção acadêmica me deixa desanimado. Se, por um lado, isso me deixa triste e desinteressado em efetuar correções – aliás, que nome feio para o ato de contribuir na aprendizagem acadêmica –, por outro, me machuca ter que aplicar notas baixas. Nesse caso, seria bem mais fácil lançar mão de notas gerais, avaliar por cima, fazer leitura dinâmica... Mas me questiono se isso seria fazer jus ao meu papel de professor: há um impasse entre a avaliação do empenho do aluno e o meu empenho nas correções, minha vontade de fazer valer a pena, o desejo do aluno e tantas outras coisas.

Porém, finalizando o ano, vejo o quanto esse aluno que não quis aprender, que fez os trabalhos por fazer para garantir uma nota mínima, esse aluno que não queremos ter, me marcou. Me fez tentar planejar e fazer aulas diferentes, ler outras coisas, questionar, me tirou do lugar: me mudou. Muito embora o desânimo tenha feito parte desse caminho de mudança, o aluno desinteressado foi a grande incógnita a ser solucionada, só não sei se consegui atingi-lo.

Do lado de cá da mesa, avistando tantos materiais escolares, meio perdido nesses pensamentos sobre como os alunos me fazem, sobre as minhas preguiças e impasses, vejo as pessoas se organizando para mais um momento natalino. Ao final de um ano longo, é quase inevitável o cansaço, os arrependimentos e as lembranças doces das vitórias conseguidas. Ainda resta o desejo implacável de cumprir os cronogramas, conseguir dar o plus do nosso conteúdo, fechar diários e fazer o levantamento final dos resultados... Ainda deve restar ânimo para terminar o ano, pois faltam dois meses!

É assim que eu fico quando vejo as luzes brilhantes do Natal: meio bobo pensando o quanto contribuí para transformar as realidades dos meus alunos e o quanto os alunos colaboraram ao abrirem portas para que eu faça algo diferente na vida deles, para que eu possa mudar de vida, para que eu seja ser professor.

(Eu sou o Luiz Ribeiro, colunista da rede Professores transformadores. Nas andanças pelas estradas de Minas, me situo como psicólogo e doutor em Educação. Acredito que ser um professor transformador seja crer no potencial da educação para a melhoria do mundo.)

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