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COLUNA DO GABRIEL DE SOUZA SOUZA: O que senti em meu primeiro dia de estágio

Colunista convidado do projeto Professores em transFORMAÇÃO

Em uma manhã, estava me arrumando para ir até a escola, para o meu primeiro dia de estágio. Uma grande ansiedade me tomava, pois essa era a escola – localizada na sede do município e que atende a cerca de 60% dos alunos oriundos do campo – onde havia estudado durante parte da minha vida. Fui para lá pensando no que me aguardava e em como seria rever os professores que, um dia, deram aula para mim.

Eu também já havia sido aluno da professora de Matemática que iria acompanhar e a considerava excelente. Naquele dia, ela daria aula para uma turma do Ensino Médio e, quando entrei em sala, como eu já conhecia muitos estudantes daquela turma, me senti ainda mais inseguro. Foi quando a professora pediu para que me apresentasse para toda turma e falasse sobre minha proposta de estágio. Contei sobre minha história e sobre meu curso de graduação, voltado para a formação de professores para atuarem em escolas do/no Campo. Também falei sobre como conheci o curso: por meio de um professor que havia dado aulas para mim. Depois de minha fala, um pouco mais calmo, me sentei em um canto da sala e comecei a observar a aula, a professora e os alunos.

Pouco depois, a professora me chamou e pediu que eu ficasse com a turma por alguns minutos, porque ela teria que resolver umas questões na secretaria. Confiante, aceitei o que ela me pediu, no entanto, logo que ela saiu, senti minha insegurança aumentar de novo: aquela seria a primeira vez em que, naquela escola, eu não seria um estudante, mas um professor. Respirei fundo e sentei-me onde a professora se sentava. Alguns estudantes, então, começaram a me chamar: Professor, me ajude com a atividade!

Fui até um dos alunos e o ajudei. Depois dele, vários estudantes me pediram ajuda e eu já não estava conseguindo dar conta de atender a todos. Daí, já pude observar um dos desafios de ensinar, o de conseguir atender as demandas de cada aluno. Mesmo assim, para mim, percebi que era gratificante ouvir os alunos me pedindo ajuda e notei que estava dentro de sala não como uma autoridade ou alguém superior, mas como um colaborador. Reconheci também que, sem eles perceberem, os estudantes estavam colaborando e me ajudando na construção de ideias e de concepções sobre meus possíveis caminhos na docência.

Enquanto aguardávamos o retorno da professora, um dos alunos me pediu para falar mais sobre a Educação do Campo. Quando ouvi o pedido, só pensei: Agora é um momento de transformação! Um momento em que um filho de camponeses apresentará aos filhos de outros camponeses a Educação do Campo, uma educação que foi negada a eles e a nós. Nesse primeiro dia de estágio, comecei a entender a escola como um espaço sociocultural e fundamental para se pensar e transformar a relação com o campo e com os seus sujeitos.

(Eu sou o Gabriel de Souza Santos, graduando no curso de licenciatura em Educação do Campo com Habilitação em Matemática, pela Universidade Federal de Minas Gerais. Sou bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET. Moro em Itaipé-MG.)