Voltar ao site

COLUNA DA MICHELLE RISTOW: O que vem antes

Texto 4

Quinze de setembro foi um sábado que amanheceu ensolarado e eu tive a alegria de comparecer na Casa Diálogos, uma casa que promove encontros potentes, traz luz à nossa realidade de educadores e que promove formação humana.

Severino Antônio e Katia Tavares foram os responsáveis pelo meu movimento de escuta daquela manhã e me deram o privilégio e o grande presente de ouvi-los. Dois grandes educadores que repensam o papel da educação e que trouxeram, na bagagem do nosso encontro, as suas experiências, vivências e, sobretudo, o coração equilibrado com a razão.

Das muitas falas, algumas me marcaram mais e além de destacá-las aqui, ofereço o convite de tecermos juntos uma ou várias linhas de pensamentos onde cabem muitas vozes para refletirmos sobre algumas coisas que talvez nunca ouvimos ou que já esquecemos.

Severino disse sobre o “educar para o ato criador” e, a partir dessa premissa, sobre a importância de religar afeto e inteligência.

Me marcou quando ele destacou que também é aprendizado quando afeto e inteligência caminham juntos, trazendo a emoção e a racionalidade como pontos de apoio um do outro. Nesse momento, subiu um “frio na barriga”, porque me lembrei de todas as vezes em que fui ou absolutamente racional ou absolutamente emotiva, e permiti que um em detrimento do outro tomassem decisões gigantes na minha vida até hoje.

Relembrei também de muitas falas, atitudes e comportamentos na minha relação com as crianças em que ou o emocional gritou mais ou o racional quis se fazer mais presente. Após relembrar isso, vi o quanto, muitas vezes, faltou parar e enxergar o que, de fato, estava acontecendo em determinada situação.

Passamos por inúmeros momentos dentro e fora de sala. Os espaços da escola são, constantemente, um convite para nossas emoções aflorarem demais ou para que nossa razão, quando descabida, faça valer o controle gigante que habita em nós. Eis o desafio, o equilíbrio.

E, pra falar bem a verdade, ouvir da maneira com que Severino disse naquela manhã me trouxe para um lugar de encantamento com a capacidade que nós, seres humanos, temos e que, infelizmente, desconhecemos ainda. A capacidade de sermos criadores de novas concepções sobre os relacionamentos que nos cercam.

Sermos criadores de nós mesmos no processo da educação é termos um olhar cuidadoso para quem e o que somos. Até que ponto aguentamos e o que nós podemos transformar do processo pelo qual atravessamos. Olhando com generosidade para nós e libertando a nós, olhamos com generosidade para o outro e libertamos o outro.

Em uma outra fala, Severino elucidou o que eu acredito e aí, confesso, foi o momento em que minha emoção e razão talvez tenham estado mais perto uma da outra. Foi quando ele disse: Antes do currículo, antes da avaliação, antes de qualquer material, existe um fator mais importante na educação e ele é o encontro humano. Ao ouvir isso, olhei ao redor, para a diversidade de encontros humanos que estamos atualmente vivendo e para o momento de vida que todos estamos passando, seja com mais ou menos preconceitos, seja com mais ou menos respeito, seja com mais ou menos compreensão do lugar de fala do outro. Tive a certeza de que o florescimento humano só se dá pela qualidade do encontro, pelo tratamento que dispomos nesse encontro, pela minha oferta de escuta, de fala e de tempo perante o outro.

Por fim, passei a observar muito mais como tenho sido para aqueles que, toda manhã, estão me esperando e que eu, também, espero.

Eu sou dessas de escrever motivos de gratidão a cada dia, observo tudo que aconteceu e escolho alguns motivos para deixar escrito e guardado. Neste mesmo 15 de setembro, os meus motivos foram as falas de Severino e a sutileza da Katia. Respirei e senti alívio. Ainda existe poesia, razão e contemplação neste mundo. Sim, existe equilíbrio! Como anda você?

(Eu sou a Michelle Ristow. Transformadora de mim mesma. Uma sonhadora consciente da realidade e esperançosa por natureza. Acredito na relação que oferece espaço, promove autonomia e considera o lugar de fala do outro. Gosto de aprender brincando, ouvindo histórias e conversando.)