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COLUNA DA MICHELLE RISTOW: 2018 a serviço de quem e para quem?

Texto 7

Entre a escrita de relatos e evidências dos meus estudantes e as inúmeras folhas de caderno com anotações, rabiscos e desenhos sobre eles, feitos por mim e espalhadas em cima da minha mesa, me despeço de um momento de reflexão para entrar em outro.

O ano de 2018 foi a serviço de quem e para quem?

A escola é esse espaço plural, diverso e múltiplo. Nós, que convivemos e compartilhamos esse espaço todos os dias, passamos por um tanto de situações, relacionamentos e experiências que nos atravessam em cheio.

E, quando me aprofundo na pergunta: para quem eu servi? Lembro do menino generoso, de oito anos e com certa dificuldade de expor seus sentimentos e que, após o trabalho de um ano juntos, disse: Agora, quando eu fico triste, eu falo o que aconteceu e fico melhor. Quando eu era pequeno, eu não falava e eu não ficava bem. Falar me ajuda.

Da menina criativa, também de oito anos, que reconhece seu percurso de aprendizagem e diz: Minha amiga me ajudou nessa atividade, mas ela não me falava as respostas, porque, se ela falasse, eu não estaria aprendendo nada, não é mesmo? Ela me fazia mais perguntas.

Penso na estudante curiosa, de nove anos, que, em seu projeto de investigação livre, contou: Eu descobri que a ciência foi inventada por Tales de Mileto antes de Cristo, mas a palavra ciência foi William Whewell que inventou no século XIX e o Isaac Newton aparece em 1º lugar dos top 10 cientistas do mundo. A gente teve a ideia de fazer um livro.

Há também o estudante sabido, de oito anos, que, em uma das propostas sobre igualdade de direitos entre homens e mulheres, disse: As mulheres merecem mais respeito do que recebem. É injustiça os homens acharem que são mais importantes que as mulheres.

E a estudante de oito anos que conecta ideias, pensamentos e confirma: Os passeios são importantes, porque não é que a gente sai para passear, a gente vai descobrir coisas novas lá fora, coisas que já aconteceram ou que podem acontecer.

A criança que parece mais um mar de fogueirinhas e que, no primeiro encontro de tutoria do ano, te olha e diz: Eu acho que coisas novas vão acontecer, coisas boas vão chegar e outras não tão boas vão acontecer também porque faz parte. Dito e feito!

O menino que se envolve na linguagem poética, gosta de surf e faz um poema homenageando seu pai, que pratica o esporte, e, em um dos trechos, descreveu: Quando a onda eu pego / eu dou um aéreo / e quando a onda é grande / no surf eu me torno gigante.

Teve a criança consciente de si e que percebeu que o seu emocional está atrapalhando seus relacionamentos e confirmou sua nova estratégia: Agora, eu vou para bem longe, respiro, converso com outras pessoas e depois, mais calma, eu volto. Isso está me ajudando.

Por fim, a menina dos olhos de jabuticaba, de oito anos, que, quando analisou os seus desafios do ano, descreveu: Eu cumpri todos os meus desafios e estou pronta para o 4º ano.

Servi a esses. Iluminados. Criativos. Imensos e intensos. Servi aos que estão, junto comigo, aprendendo e desaprendendo. Aos que me ensinam. Aos que me devolvem com gestos e olhares sentidos para continuar. Sobretudo, eu servi a cada um desses e aos demais que são e estão inteiramente abertos a uma nova experiência, a um novo conhecimento, a uma nova brincadeira, a uma nova ideia, a um novo movimento corporal, a uma nova descoberta.

2018, te agradeço. Com afeto e admiração.

(Eu sou a Michelle Ristow. Transformadora de mim mesma. Uma sonhadora consciente da realidade e esperançosa por natureza. Acredito na relação que oferece espaço, promove autonomia e considera o lugar de fala do outro. Gosto de aprender brincando, ouvindo histórias e conversando.)