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COLUNA DA MARIA DA GRAÇA MOREIRA: O lugar das tecnologias na BNCC

Texto 7

Continuando nossas reflexões sobre como colocar em ação as BNCC, nos instiga conhecer e aprofundar o debate sobre qual o papel que as tecnologias ocupam no documento. Conhecer para quê? Para que possamos entender qual diálogo se estabelece entre tecnologia e educação neste cenário contemporâneo, considerando que nossos alunos estão e vivem, em grande parte, na cultura digital.

Na versão final da BNCC, a articulação entre tecnologias e educação foi bastante alargada em relação às versões anteriores e se faz presente em todo o documento. O texto conceitua que as aprendizagens essenciais devem assegurar aos estudantes o desenvolvimento de 10 competências gerais e, dentre elas, a competência 5 sugere o seguinte:

Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva (BRASIL, 2018, p. 9).

Ao dissecar a competência 5, entendemos que, para além de “compreender” e “usar” as TDIC, o que conferiria uma utilização operacional das tecnologias, o documento inclui o verbo “criar”, o que amplia a utilização para uma ação mais autoral. Aqui, se entende que a tecnologia é uma construção humana, e o controle do homem sobre a tecnologia ultrapassa a ordem instrumental.

Prosseguindo a análise, destaca-se que a compreensão, uso e criação devem se dar de forma “crítica, significativa, reflexiva e ética”. Oras, a tecnologia advém de um processo histórico de construção, é conquista da humanidade e o cidadão necessita ser humanizado na perspectiva histórica de seu tempo. No sentido amplo, para Vieira-Pinto (2005), as TDIC norteiam a educação para a consciência crítica, instrumento que emancipa a sociedade, os educadores e os educandos.

Caminhando um pouco mais, a mesma competência pontua que esse uso de tecnologias para “exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva”. Assim, as BNCC indicam as qualidades das tecnologias para a compreensão do mundo e para a atuação nele. As TDIC são consideradas instrumentos de mediação da aprendizagem e devem contribuir para que o estudante aprenda a obter, transmitir, analisar e selecionar informações. E mais, são importantes para melhor compreender como a sociedade impõe limites e, ao mesmo tempo, apresenta oportunidades para a intervenção humana.

E é justamente a intervenção do homem no mundo que se espera ao integrar as tecnologias à educação. Integradas, e não como complementos da educação, as tecnologias são enxergadas, nesta coluna, com seu potencial para o empoderamento de todo o trabalho pedagógico. No entanto, a voz dos alunos e docentes mediadas pelas tecnologias não podem estar voltadas exclusivamente para a expressão ou para o bem individual, mas para a transformação de sua comunidade e sociedade (ALMEIDA; SILVA, 2014).

O empoderamento é essencial para dar voz e conferir autoria aos alunos nesse mundo contemporâneo e, novamente, é um “convite à ação” num mundo que constata a necessidade de uma transformação para o bem-estar social, justiça, liberdade e paz. Nesta perspectiva, as tecnologias e a educação integradas são relevantes para a emancipação da sociedade com a contribuição da escola e de seu modo de produzir e reproduzir conhecimento humano, humanizar e hominizar.

Como? A questão agora se coloca em sua complexidade que, embora se apoie em marcos legais, demandará de nós, professores, colocá-las em ação.

Referências:

ALMEIDA, F. J.; SILVA, M. G. M. Cultura digital e currículo como direito. e-Curriculum, São Paulo, v. 2, n.12, p. 1.233-1.248, mai./out. 2014.

BRASIL, Ministério da Educação. Bases Nacionais Comum Curriculares: educação é a base. Brasília: MEC. 2018.

VIEIRA PINTO, A. O conceito de tecnologia 1. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005. XXX p.

(Eu sou Maria da Graça Moreira, professora da pós-graduação em Educação: currículo, em Novas Tecnologias na Educação da PUC SP. Acredito na leitura crítica e na escrita no mundo e na cultura digital, com nossas palavras.)