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COLUNA DA MAISA DE FREITAS: Quando um aluno me corrigiu na classe

Texto 4

O que fazer quando um aluno te corrige em plena sala de aula? Foi o que me ocorreu certa vez quando eu redigia uma pergunta no quadro e escrevi um POR QUÊ no início da frase ao invés de um POR QUE. De acordo com a Gramática da Língua Portuguesa, aprendemos que o uso do acento circunflexo só se faz presente quando o POR QUÊ vier acompanhando de algum ponto final, de exclamação, ou de interrogação, por exemplo. Eu elaborei as questões sem me atentar para esse detalhe.

No momento em que eu terminava de escrever a pergunta, um aluno levantou a mão. Logo pensei que ele diria não ter compreendido a minha letra ou que me pediria para ir ao banheiro. Foi então que ele disse: Professora, você escreveu errado, esse ‘por que’ não tem acento! Antes que eu pudesse manifestar alguma reação, os demais alunos reagiram com comentários do tipo: Nossa, você é doido, corrigiu a professora.

Confesso que a sensação do erro diante dos alunos, a princípio, me deixou um pouco tensa, pois eu não sabia como eles interpretariam aquela situação e como aquilo poderia afetar a imagem que eu tinha perante a turma. De certa forma, às vezes, nos sentimos vulneráveis diante de uma geração cujo comportamento é mais questionador e que já tem ao seu dispor uma gama considerável de informações. Apesar disso, não podemos desconsiderar que o erro faz parte do desenvolvimento humano e que é preciso lidar com ele de maneira natural, como parte inerente do processo de ensino e aprendizagem, tanto em relação aos alunos como também em relação aos professores.

Com isso, ao me ver diante de tal situação, eu simplesmente agradeci ao aluno pela colaboração. Disse que me senti satisfeita por ele estar atento e que poderia me ajudar sempre que eu errasse. Ele, por sua vez, manifestou um semblante de satisfação. Creio que ele se sentiu bem por ter me ajudado, foi humilde e educado em sua colocação.

Muitos alunos deixam de fazer perguntas ou até mesmo de respondê-las por medo de errarem também. Precisamos ensinar aos nossos alunos que o erro faz parte da vida e, quando tentamos novamente, podemos realizar ações transformadoras em nossas vidas. Errei outras vezes em sala de aula e costumo até brincar como os alunos: Eu fiz de propósito para saber se vocês estavam prestando a atenção! – e aprendi de vez que POR QUE em início de frase não tem acento.

(Eu sou a Maisa de Freitas, colunista da rede Professores transformadores. Sou professora de Geografia e mestra em Educação. Atuo na rede pública de ensino e acredito que pequenas ações realizadas em parceria possuem um grande poder transformador.)