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COLUNA DA MAISA DE FREITAS: O aluno e o acolhimento do professor

Texto 21

Minha primeira aula como professora de Geografia fora da minha cidade natal foi em Ouro Preto-MG, em 2012. Eu tinha 24 anos e ainda me lembro, com um frio na barriga, como foi sair da minha zona de conforto por ir lecionar em um lugar diferente.

Na escola, subi devagar as escadas para retardar o momento da chegada, mas já pude ouvir vozes de alunos que me esperavam na sala. Quando cheguei, todos se silenciaram num misto de curiosidade e de dúvida, dado que eu era uma professora substituta. Apresentei-me e pedi que eles se apresentassem também para “quebrarmos o gelo”. Era uma turma tranquila, a princípio, de poucas falas. Em alguns momentos, pareciam concentrados, em outros, mais desanimados.

Comecei a explicação da matéria após as apresentações. Esforcei-me para ser o mais didática possível ao mencionar fatores locacionais das indústrias, mas, no meio da aula, um aluno disse, em voz baixa: Ah, eu desisto de Geografia!

Não sei se ele disse isso porque achou o conteúdo difícil ou porque a aula estava muito ruim mesmo, mas o fato é que aquilo aumentou a minha insegurança e eu também quis desistir de estar ali, voltar para a minha casa e para a escola com alunos que já conhecia. Tudo isso se passou pela minha mente enquanto eu fingia não ter ouvido o que ele falou.

Sair da minha zona de conforto foi doloroso, mas, com o tempo, fui criando vínculo com os alunos. Uma das coisas que me marcou muito nessa fase inicial foram os cumprimentos de vários deles quando eu chegava ou passava por eles na escola. Bom dia, professora, tudo bem? Oi, professora! Joia? Os acenos de mão e os sorrisos me fizeram um bem enorme e, de certa forma, me senti acolhida. O sorriso mais bonito era do aluno que disse querer desistir de Geografia, não esqueço jamais. Gestos simples como esses me deram força para continuar, gestos de acolhimento.

Hoje, trabalho em outra escola, em Mariana-MG, cujo ano letivo se reinicia com corações e mentes renovados para novas atividades. Apesar de ter adquirido boas experiências ao longo da minha trajetória, sinto ainda a insegurança dos recomeços, de conhecer turmas novas e de como será o ano com elas. Tento, contudo, compartilhar todo o acolhimento que já recebi por onde passei, para que, mais uma vez, eu possa ser bem recebida por aqueles com quem estarei em boa parte da minha rotina. Isso faz muito bem!

(Eu sou a Maisa de Freitas, colunista da rede Professores transformadores. Sou professora de Geografia e mestra em Educação. Atuo na rede pública de ensino e acredito que pequenas ações realizadas em parceria possuem um grande poder transformador.)