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COLUNA DA GISELE MAGALHÃES: O papel do professor de Arte na formação de público

Texto 8

“Ninguém nos ensinou a gostar do teatro brasileiro.” (Sábato Magaldi)

Eis uma triste verdade que poucos tem a coragem de escrever. Eu mesma comecei a gostar de teatro, digo da arte de interpretar, vendo novelas. A primeira vez que estive no teatro estava com 17 anos e fui levada por colegas da escola de interpretação que não acreditavam que eu nunca havia assistido uma peça, salvo uma realizada no pátio da escola por um grupo amador, que me custou R$ 0,50 – os mais bem gastos! Ou seja, quase subi ao palco antes de vivenciar a magia de se estar no público.

Na escola fala-se de poesia, literatura, mas pouco se fala sobre arte dramática.

E sobre a arte no geral... O que ensinamos? De que forma ensinamos? Como transformar a aula de Arte em uma experiencia significativa quando ainda estamos presos ao século passado?

Um professor comprometido, que busque inovar em suas aulas, trabalhar novas tecnologias, ajuda muito, mas não devemos nos esquecer que cabe à instituição de ensino também promover a estrutura para que tais mudanças sejam possíveis, pois fica muito difícil inovar quando o material oferecido se traduz em giz e lousa.

Brecht afirmava que a observação da arte só levará ao prazer se houver uma arte da observação. Em suma, apreciamos aquilo que conhecemos. A medida que se adquire domínio das diferentes linguagens da arte se amplia o interesse e, consequentemente, a percepção e a compreensão das obras. Parece simples, mas não é. Como ensinar sobre teatro, desvendar obras (telas, esculturas, instalações, entre outros) e mostrar a paixão de artistas para um público que, cada vez mais, frequenta menos espaços culturais? Como formar esses espectadores? Qual é o papel da escola nessa formação? E o do professor de Arte que, algumas vezes, também é artista?

Se pensarmos que um dos papéis fundamentais da escola é a formação de cidadãos conscientes, formar espectadores, segundo Desgranges (2003), não se trata apenas de lotar museus e teatros, mas consiste em estimular indivíduos (de todas as idades) a ocuparem seu lugar no mundo.

Leciono Arte e continuo com esses questionamentos a cada plano de aula, buscando respostas, soluções... Quase sempre o que funciona com uma turma não funciona com a outra e seguimos nesses labirintos pedagógicos, contornando problemas, buscando novos caminhos, novas estratégias, vivenciando as angústias e os prazeres de ser professor.

Referências:

MAGALDI, Sábato Magaldi. Panorama do teatro brasileiro. São Paulo: Global, 2004. 328 p.

DESGRANGES, Fernando. A pedagogia do espectador. São Paulo: Hucitec, 2003. 185 p.

(Sou a Gisele Magalhães. Mulher, negra, mãe, artista, produtora cultural e professora de arte. Pertenço aos 0,1%, segundo o censo do MEC, de 2013, de professores da rede básica de ensino formados em Teatro e acredito na força dessa arte na formação do indivíduo e construção de sua autonomia.)