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COLUNA DA ELÔ LEBOURG: Uma montanha-russa chamada docência

Texto 94

– Você está se sentindo bem?

Não, ele não estava. Naquela noite, meu aluno chegou cedo à sala, sentou-se e respirou como se tivesse dado um curto suspiro. Observei a cena, que se repetiu algumas vezes, e foi aí que perguntei se ele estava passando bem. O rapaz, então, deu vazão a algo que me pareceu uma crise de pânico. Tinha dificuldades de respirar, tremia e ficou muito suado. Fui até ele. Perguntei se podia tocá-lo e o envolvi com um dos braços, com alguma firmeza e delicadeza. Conversei baixinho, até que ele se acalmou um pouco. Sugeri que ele fosse para casa, para descansar e procurar ajuda médica ou de sua família. Um colega do estudante, que também estava na sala, o acompanhou. Em seguida, ministrei uma aula sobre gestão e planejamento escolar, por uma hora e meia, para mais de 30 alunos.

A rotina de um professor é assim. Em uma sala de aula pode acontecer de tudo. O conteúdo a ser ministrado, frequentemente, é extrapolado por outras situações, cotidianas ou não. Em uma mesma aula, percebo olhares ternos e olhares mordazes dirigidos a mim. Há alunos que anotam o que estamos discutindo, enquanto outros olham, distraídos, para seus smartphones. E há essas situações de urgência e emergência, que também podem acontecer.

Ainda estou aprendendo a, como professora, lidar com tudo isso sem me esgotar física e emocionalmente. Tento perceber que há um sentido em tudo o que acontece em uma sala de aula, do conteúdo aos imprevistos. E tenho entendido que é necessário conversar ainda mais sobre essas situações, para aprender a agir pedagogicamente diante delas. Quando o assunto é a interação humana, é preciso estar minimamente preparado para encarar o que vier.

Creio que a docência é uma das profissões que mais exige a habilidade de saber se relacionar socialmente. O trabalho do professor envolve dezenas de alunos a cada aula ministrada. Lidamos com os estudantes, com os conteúdos a serem trabalhados, com as crises. Tudo isso, muitas vezes, nos tira do lugar. Porque não é mesmo fácil dar conta de desenvolver uma boa prática docente diante de tantas questões. Quando me perco nessas dificuldades e fico achando que a docência se parece mesmo com uma montanha-russa, lembro que, mais do que nunca, eu, professora, sou necessária. A minha intervenção, firme e delicada, pode ser a diferença na vida dos meus alunos. Desse papel não abro mão.

(Eu sou a Elô Lebourg, idealizadora da rede Professores transformadores. Entre tantas coisas, sou graduada em História e mestra em Educação. Sou uma professora transformadora também, dessas que acredita que vai mesmo melhorar o mundo.)