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COLUNA DA ELÔ LEBOURG: Os estudantes vão e eu fico

Texto 87

Sabemos que a escolarização formal é marcada por um processo que tem um início e um fim. Esse início é representado pela chegada dos estudantes à escola (ou à universidade) e por momentos carregados de novidades e expectativas. Do outro lado deste percurso, está sua conclusão. Aqui, muitas vezes, os estudantes chegam esgotados, mas a sensação de vitória está lá: conseguiram concluir a formação e, agora, deixam a escola. Esse momento, muitas vezes, é marcado por rituais que envolvem celebrações. Os estudantes, mesmo que com algum receio do que está por vir, festejam.

 

Na universidade onde leciono atualmente, os estudantes formandos decoram o saguão principal com banners com seus rostos retratados e com um aviso de contagem regressiva. Falta pouco pra colação de grau e pro baile de formatura. Nas minhas experiências anteriores, no Ensino Fundamental, os rituais de comemoração também eram muito festivos, com churrascos ou viagens, e as cerimônias realizadas na escola.

 

Sempre observei esses momentos com muita alegria, mas também me percebo experimentando, até hoje, a estranha sensação de observar meus alunos “partindo” da escola, prestes a iniciarem novas experiências, e eu “ficando” por ali. Por algum tempo, especialmente no início da minha carreira como professora, essa angústia vivida à época das formaturas me incomodou. Precisei de esforço para desconstruir a ideia de que eu não estava “parada no tempo” e que, de alguma forma, meu papel como professora envolvia justamente a oportunidade de reviver certos ciclos, processos e rituais.

 

Para diminuir a sensação ruim que eu experimentava, tratei de atribuir novos significados às partidas de meus alunos, procurei investir em meu cotidiano como professora e procurei compreender que ele, certamente, supera a lógica das travessias dos estudantes. A minha travessia, ali na escola, é outra. A cada ano, eu vou tentando melhorar a minha prática, aprendo novos conteúdos, supero desafios. Nem de longe é a minha rotina se parece com uma mera repetição.

 

Os alunos vão embora e eu realmente fico. Quando fico, vivo problemas que nunca imaginei viver. E os resolvo, na medida do possível. Quando fico, não é como se estivesse destinada a repetir sempre uma mesma história. Eu fico para criar algo novo, para avaliar minha prática e tentar transformar, mais e mais, novos sujeitos, que, dali a pouco, partem para, eles mesmos, serem agentes potentes de transformação. Isso é, finalmente percebi, muito bonito.

(Eu sou a Elô Lebourg, idealizadora do Professores transformadores. Entre tantas coisas, sou historiadora e mestra em Educação. Sou uma professora transformadora também, dessas que acredita que vai mesmo melhorar o mundo.)