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COLUNA DA ELÔ LEBOURG: O professor em perigo

Texto 93

Não sei por onde começo este texto. Estou em dúvida se ele deve ser escrito e publicado. Venho afirmando que os professores não devem se silenciar, mas também reconheço que é preciso ter prudência em uma sociedade que tem se revelado cada vez mais antidemocrática e fascista, como a nossa. Sinto que, como professora, é como se andasse com um alvo fixado às minhas costas. E isso me assusta e me dá medo.

É verdade que, já há algum tempo, qualquer frase minha sobre políticas públicas, legislação ou sobre a atuação do Estado relacionada à educação, em sala de aula, vem acompanhada de um “frio na barriga”. Porque a distância entre o que estou afirmando (e falo a partir de um aprofundado embasamento teórico) e o que alguns de meus alunos escutam é gigantesca e perigosa. Convivo com a possibilidade de ser acusada – e já fui, algumas vezes – de doutrinação e de ver meu emprego e minha integridade física ameaçados. Isso não tem sido fácil.

Assumo que, como professora, estou em constante formação, mas também afirmo que o meu saber é fruto de muito estudo e reflexão. Preparo muito bem cada uma das minhas aulas, recorro a um referencial teórico qualificado, acesso informações variadas, reflito sobre estratégias didáticas que permitam que meus alunos aprendam melhor. Invisto muito tempo e muita energia na minha profissão. Sei do que estou falando, mas ainda percebo que o que falo, às vezes, é recebido como mera opinião. O meu saber, como professora, ainda tem sido percebido como um simples palpite por alguns de meus alunos e pela sociedade em geral.

E sinto que tudo pode piorar. Movimentos, como o Escola sem Partido, que defendem uma educação conservadora e meramente conteudista não param de avançar. Criou-se uma ideia, amplamente difundida por meio das fake news, de que muitos professores são defensores do comunismo, querem destruir as famílias e a religião, impor uma “ditadura homossexual e feminista” e que defendem que justiça social é “passar a mão na cabeça dos bandidos”. De transformadores do mundo por meio da Educação, passamos a ser encarados como profissionais perigosos e que precisam ser combatidos.

Há todo um projeto de silenciamento e desqualificação dos professores acontecendo. Não consigo visualizar uma sala de aula possível no momento. Não estou certa se haverá, entre os professores, alguma tranquilidade e liberdade para desempenharem bem o seu trabalho. Mas antecipo muito adoecimento docente, desvalorização e colegas desistindo da profissão. Nós, professores, não somos perigosos. A verdade é que estamos correndo perigo. Tenho esperança, contudo, que não sejamos massacrados e que a sociedade se dê conta da nossa importância e lute ao lado da gente.

(Eu sou a Elô Lebourg, idealizadora da rede Professores transformadores. Entre tantas coisas, sou graduada em História e mestra em Educação. Sou uma professora transformadora também, dessas que acredita que vai mesmo melhorar o mundo.)