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COLUNA DA ELÔ LEBOURG: Não vejo a hora do ano terminar

Texto 77

Novembro vai avançando e o cansaço começa a ficar ainda mais evidente no semblante de muitos brasileiros. De novo, o ano não foi fácil. Perdas de direitos e garantias trabalhistas, retrocesso de conquistas que haviam sido resultado de luta e engajamento. Uma sensação de angústia e de medo do futuro paira entre muitos de nós.

 

Com os professores não é diferente. Entre os profissionais com titulação de Ensino Superior, somos uma das categorias com menor remuneração. A desvalorização da nossa carreira nos afeta em muitos sentidos. Além disso, somos duramente responsabilizados pelos resultados escolares: se algo vai mal na escola, é comum que os professores sejam culpabilizados.

 

Eu não vejo a hora do ano terminar! É o que mais tenho ouvido de meus colegas professores neste final de ano. Dizem isso movidos pelo desgaste provocado por mais um ano de trabalho intenso, mas sem remuneração justa, sem condições favoráveis de trabalho, sem respeito de parte dos alunos e de suas famílias, sem apoio das equipes escolares diante dos problemas que enfrentam.

 

Compreendo esses contextos e tento acolher a dor de cada um desses professores. E lamento. Lamento porque estou certa de que nenhum profissional deveria trabalhar até o esgotamento e o adoecimento. Creio que as férias de final de ano poderiam representar um momento de balanço do ano, de diversão com a família e de preparação para o novo ano, e não a oportunidade de tentar se recuperar de um desgaste extremo e desolador.

 

Também lamento porque, ao contrário do que muitos pensam, esses professores são profissionais incríveis. São engajados, têm ideais e trabalham com coerência. Apesar de tudo, assumem, com responsabilidade, sua prática. Eles propõem boas aulas, desenvolvem projetos, pesquisam, continuam em formação.

 

Vejo que, resistindo, esses professores cuidam de seus alunos de uma forma admirável. Prova disso é que eles voltam. Finalizam o ano letivo esgotados, mas voltam ao trabalho no ano seguinte. Nem sempre estão renovados, mas investem toda energia que ainda têm em sua profissão. É lindo de ver. Inspirador também. Quem desvaloriza profissionais assim não sabe o que está perdendo.

 

A todos vocês, meus queridos colegas professores, finalizo o meu último texto de 2017, com um abraço (fra)terno e com o desejo de que, em 2018 e vida afora, a gente siga aprendendo uns com os outros.

(Eu sou a Elô Lebourg, idealizadora do Professores transformadores. Entre tantas coisas, sou historiadora e mestra em Educação. Sou uma professora transformadora também, dessas que acredita que vai mesmo melhorar o mundo.)

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