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COLUNA DO LUIZ RIBEIRO: Reflexões sobre Psicologia e Educação

Texto 17

Bom, acabo de sair de um congresso em Salvador sobre Psicologia Escolar e Educacional (XIII CONPE) e, depois de ver tantas mobilizações de pesquisadores da área, só vêm à minha cabeça mais questionamentos sobre como a Psicologia pode contribuir para a transformação do mundo pela Educação. Como?

Primeiro, digo que o conteúdo de Psicologia faz parte de grande parte dos cursos de formação de professores no Brasil, e aí posso afirmar que esses saberes esculpidos na tradicionalidade das raízes psicológicas contribuem como um ferramental aos professores. Entretanto, penso que as contribuições vão além de um aporte curricular, e permitem questionamentos sobre as práticas institucionalizadas e sobre os discursos colocados como absolutos, desmedicalizam, fazem interromper e buscam saídas onde, aparentemente, não há portas.

A partir de uma mesa redonda durante o CONPE, que contou com duas dessas professoras psicólogas, me questionei que a Psicologia e seus agentes devem se dar conta da responsabilidade na manutenção da hegemonia branca, cis-heteronormativa e elitista que vigora também na escola. Torna-se necessário questionar as práticas de discriminação e possibilitar que os sujeitos tomem o que lhes é de direito, proporcionando não somente acesso – com condições questionáveis quanto à igualdade – mas a ocupação de espaços que estejam atentos às inequidades históricas e sociais.

Nesse processo de superação das condições desiguais há a necessidade de reconhecimento de privilégios e de lógicas de exclusão que estão dados pelo status quo da cotidianidade. É preciso escutar o que os sujeitos dizem sobre os preconceitos, racismos, violências e discriminações que a escola reproduz, algo presentificado nos rótulos sociais, nos enquadramentos, diagnósticos, nas escolhas de materiais didáticos, demarcações de eventos nos calendários escolares, nominação e execução de festas e datas comemorativas – apesar das nossas lutas, quase tudo na escola respira isso: demonização do diferente, que deve ser invisibilizado.

Todos estão (ou deveriam estar) na escola e, muitas vezes, marginalizados: negros, gays, travestis, pobres, indígenas, campesinos, mulheres etc., e se negar a vê-los ou negar-se a agir diante das violências que acontecem com eles é concordar com a perpetuação da desigualdade, com uma escola sem partido.

Hoje, em terras baianas, ficou evidente que devemos estar atentos às perspicácias das micropolíticas de privilégios e dos ditames hegemônicos. A escola deve ser um lugar livre, que promova a fortificação das diversidades, um território de possibilidades e não de reprodução social da violência e desigualdade. A escola que eu acredito ser transformadora consegue superar isso, a Psicologia em que eu acredito pode contribuir para isso... É preciso acreditar, mas também questionar nossas capacidades e fragilidades, muito embora isso não nos impeça de transformar o mundo pela educação.

(Eu sou o Luiz Ribeiro, colunista da rede Professores transformadores. Nas andanças pelas estradas de Minas, me situo como psicólogo e doutor em Educação. Acredito que ser um professor transformador seja crer no potencial da educação para a melhoria do mundo.)

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