Voltar ao site

COLUNA DA MARIA ALZIRA LEITE: Vozes ainda silenciadas

Texto 8

“Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui… além…
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente…
Amar! Amar! E não amar ninguém!”

Podemos dizer que é visível o grande número de mulheres ingressantes na universidade. Em determinados cursos, por exemplo, a maioria é feminina. Porém, o fato de muitas estarem nesse lugar não quer dizer que continuem a estudar. Algumas conseguem somente terminar a graduação e, no máximo, uma especialização. São diversos os fatores que acabam contribuindo para essa interrupção. Mas um deles é bem preocupante: a determinação masculina.

É muito triste ver mulheres submissas e “castradas” seja pelos pais, marido e/ou pela religião. Ao ler este texto, muitos podem se perguntar: mas isso ainda existe? Eu respondo: sim!

Como docente na pós-graduação (especialização, mestrado e doutorado), destaco, aqui, dois momentos que acentuaram a minha reflexão. O primeiro diz respeito a uma sessão de orientação. Em reunião com a aluna, o telefone da discente nos interrompe. Era o marido que havia chegado em casa e o jantar não estava pronto. O tom de voz era alto e eu conseguia ouvir a ordem: Onde você está? Venha já para casa! Essa aluna, imediatamente, desligou o celular e se desculpou comigo. Vejam bem: esse desculpar não estava direcionado a interrupção da orientação, o deixar a reunião. Ela se justificava e se lamentava por ter esquecido de preparar o jantar.

Um outro momento que também me deixou pensativa ilustra a finalização de uma dissertação. Como todos sabem, o término de uma pesquisa compõe um cenário festivo. Então, na ocasião da comemoração, eu fui convidada para um jantar na residência da aluna. E... – não sei bem... se, às vezes, eu falo demais... – acabei dizendo que a aluna já podia pensar em estender o seu estudo para um doutorado. Eu vi que os seus olhos brilharam! Era a primeira mestra na família! Porém, mais uma vez, uma voz masculina estava no comando, conduzindo o fazer. Antes mesmo de ela tentar responder, o marido interveio: De jeito nenhum! Estudar mais para quê?

Eu ficava muito reflexiva com essas conduções masculinas. E eu acabava explicando para mim mesma que talvez fosse algo recorrente em algumas cidades menores! Os meus estereótipos acabavam reafirmando outras representações. No entanto, hoje, estou numa capital. E, novamente, determinadas vozes começam a emergir... conduzindo as mulheres...

O que posso dizer? Se vocês quiserem: estudem! Avancem! Viajem! Apresentem os estudos! Defendam os posicionamentos! O conhecimento ultrapassa a casa, a cidade, o Estado. Todos tendem a ganhar com o saber! A sua voz de aluna, mestra, doutora precisa ser ouvida e fazer sentido para você!

Referência:

ESPANCA, Florbela. Poemas de Florbela Espanca. Edição preparada por Maria Lúcia Dal Farra. São Paulo: Martins Fontes, 1997, p. 232.

(Eu sou Maria Alzira Leite, professora transformadora, pesquisadora de temas que envolvem discursos de/sobre professores. Atualmente, estou como docente no Centro Universitário Ritter dos Reis/UniRitter, em Porto Alegre-RS.)