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COLUNA DA MARIA ALZIRA LEITE: Sim! É um processo!

Texto 6

O meu olhar é nítido como um girassol.

Tenho o costume de andar pelas estradas

Olhando para a direita e para a esquerda,

E de vez em quando olhando para trás...

E o que vejo a cada momento

É aquilo que nunca antes eu tinha visto,

E eu sei dar por isso muito bem...

(Alberto Caeiro)

São inúmeras as pesquisas que tematizam questões relacionadas à produção textual. Nós, educadores, lidamos, o tempo todo, com concepções teóricas e práticas que cerceiam as instituições escolares. Lemos, relemos e fazemos apontamentos. No ir e vir das produções, tentamos, de alguma forma, aprimorar os modos de enunciar do outro. Muitas vezes, nos enxergamos nas exposições dos alunos.

Na última semana, por exemplo, um colega de área, participando comigo da composição de uma defesa, em Porto Alegre, perguntou-me: Você conhece a professora X da PUCMINAS? De maneira enfática, veio um sim na minha resposta! E, completei: Ela foi a minha orientadora no doutorado! E, ele continuou: A sua forma de corrigir os trabalhos, em bancas, é bem semelhante à dela! É o mesmo jeitinho de falar! Começamos a rir, e, ao mesmo tempo, a conversar sobre o quanto estamos imbricados em nosso aluno. Reafirmei, nesse bate papo, que os professores que fizeram parte da minha construção estão aqui comigo: nos meus gestos, na minha fala, no meu modo de pensar e, até mesmo, no agir, em algumas situações. Isso quer dizer que: eu posso me revelar por meio das minhas narrativas, mas outras vozes também flutuam, completando o meu ser.

E é por isso que tenho insistido na nossa responsabilidade de se chegar até o outro, de tentar fazer diferença na vida das pessoas. Não sei se estou sendo muito utópica... Mas, talvez, seja o momento de deixarmos de lado o nosso discurso técnico para avançarmos, considerando o que temos para hoje: um aluno – graduando, mestrando e/ou em fase de doutoramento – cuja escrita está, sim, em processo. Eu tenho repetido isso, ultimamente: ele está em formação. Visualizar essa formação é maravilhoso! Penso que fazer parte desse cenário de um continuum é o que nos move enquanto docentes.

Na última semana, participei da composição de uma banca – mestrado – na qual pude perceber, de perto, esse continuum. Cabe destacar que a candidata dessa banca foi aprovada no processo de seleção de 2016. Em outubro de 2017, qualificou. Com um estudo frágil, o desafio estava posto: segundo os professores, uma reestruturação temática, em torno do objeto, precisava acontecer. A situação era muito delicada, pois a aluna já vinha de outra orientação. O atual orientador acompanhava a aluna, há uns três meses, ou seja, há pouco tempo. Mas, como tenho defendido em outros textos, resistimos enquanto profissionais. E, assim, com muito trabalho, na quarta-feira, dia 11 de abril, essa aluna finalizou mais uma etapa: o mestrado.

Ressalto que participei das duas bancas (qualificação e defesa final). Como examinadora, fui uma das que sugeriu a mudança temática. E vendo, agora, a defesa, reitero o meu dizer: sim, é um processo. Reestruturar os nossos trabalhos faz parte do caminhar. É muito bom ver o avanço da discente como pesquisadora, como professora. É muito prazeroso perceber o quanto essa aluna aprimorou a sua escrita, levando-se em conta o letramento acadêmico. É muito gratificante, para nós, compartilhar esse crescimento!

Após a defesa, alguns vieram comentar: Mas esse estudo ainda tem muitos problemas metodológicos e analíticos... Eu respondi: Sim, mas os nossos trabalhos nunca estão prontos! A nossa história com a leitura e com a escrita delineia o caminho! Enquanto professora, procuro apurar o olhar para enxergar o que parece invisível, mas está o tempo todo diante de nós: o processo. Por isso, termino enfatizando que lidar com os diferentes gêneros, com a teoria, método, análise, aplicabilidade, com o sentido... tudo isso compõe, sim, o trajeto de pesquisa dentro e fora da universidade.

Referência:

PESSOA, Fernando. O guardador de rebanhos. Poemas de Alberto Caeiro. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946, p. 46 (10ª ed. 1993).

(Eu sou Maria Alzira Leite, professora transformadora, pesquisadora de temas que envolvem discursos de/sobre professores. Atualmente, estou como docente no Programa de Pós-graduação do Centro Universitário Ritter dos Reis – UniRitter, em Porto Alegre-RS.)