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COLUNA DA MARIA ALZIRA LEITE: Quem é o professor?

Texto 7

“[...] a profissão professor encontra-se

em jogo e no centro das discussões

educacionais” (MACHADO, 2004, p. xiii).

Muitos estudos vêm contemplando temáticas que envolvem a imagem docente, o trabalho em sala de aula e as questões relacionadas à desvalorização do educador. Por meio de pesquisas, abre-se um espaço para se pensar no ser professor e, ainda, o que cerceia esse profissional. Por mais que não estejamos satisfeitos com as implicações das pesquisas, no que diz respeito à consolidação dos resultados, acredito que é importante fazer circular esses estudos. De certa forma, é uma maneira de refletirmos sobre o ser docente.

No meu exercício de (re)pensar as imagens da profissão, algumas representações têm me instigado a questionar: quem é esse sujeito?

Na realidade, parte dessa indagação me acompanha, desde 2012, quando iniciei os meus trabalhos em torno dessa temática. Na época, me incomodavam as fragmentações postas para esse profissional, isto é, imagens específicas para o professor do Ensino Fundamental, do Ensino Médio, de escola pública, de escola particular e do professor do Ensino Superior... E é interessante ver, hoje, a circulação de outras imagens e sentidos, como a do professor-tutor.

É claro que, atreladas às essas partições do ser docente, estão os estereótipos, ora positivos, ora negativos. Eu tenho um pouco de dificuldade de entender essas denominações que, de certa forma, acabam valorizando mais um certo grau do ser docente. Essa minha dificuldade pode estar ancorada na visão de que um profissional de escola pública, do ensino primário, atua, também, numa instituição particular de Ensino Superior – às vezes, no mesmo dia, em turnos diferentes. O que eu quero dizer, então, é que esse profissional é professor, considerando todas as particularidades que existem!

Outras representações que também me instigavam estavam relacionadas ao papel desempenhado. Muitos docentes que participaram da minha pesquisa, em 2012, diziam se sentir incomodados com atribuições que eram postas a eles, relacionadas, por exemplo, ao ser pai, ser mãe, ser psicólogo, ser missionário, entre outras.

Hoje, as definições e as representações continuam me aguçando. Eu tenho observado que se, por um lado, alguns professores se lamentam por terem que desempenhar papeis, mais da esfera familiar, por exemplo, existem outros que sentem orgulho desse lugar.

Nos últimos meses, no cenário da pós-graduação, notei que muitos docentes almejam, sim, lugares que, em outrora, eram ou ainda são problematizados. Destacarei duas situações que ilustram o meu posicionamento.

Há uns dois meses, assisti a algumas defesas e, em uma delas, no rito final, o professor tomou a palavra. Com a voz embargada, enfatizou: Esse é o meu filho. Na mesma época, ao conversar com uma colega professora, a mesma destacou que sua missão já tinha sido cumprida naquele lugar e que alguns alunos não eram mais seus discípulos.

É importante deixar claro, aqui, que não estou questionando essas imagens. Mas o que me incita é pensar que, dependendo do contexto, alguns papéis emergem, reforçando determinadas figuras e sentidos: professor pai, professor missionário.

Sendo assim, podemos, novamente, perguntar? Mas quem é o docente? Atrevo-me a responder salientando que ele é um educador, um trabalhador. As relações postas entre professor e aluno, profissional e instituição na qual atua, as vivências e as experiências, compõem esse sujeito.

Referência:

MACHADO, Anna R. Apresentação. In: MACHADO, Anna R. (org.) O ensino como trabalho: uma abordagem discursiva. Londrina: EDUEL, 2004, p. vii-xx.

(Eu sou Maria Alzira Leite, professora transformadora, pesquisadora de temas que envolvem discursos de/sobre professores. Atualmente, estou como docente no Centro Universitário Ritter dos Reis/UniRitter, em Porto Alegre-RS.)