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COLUNA DA MARIA ALZIRA LEITE: Acreditar para transformar

Texto 1

A alegria não chega apenas no encontro do achado,

mas faz parte do processo da busca.

E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura,

fora da boniteza e da alegria.

(FREIRE, 1996, p. 160)

Hummm! Já sinto o cheiro de sala de aula no ar! Os últimos dias de janeiro nos convidam a pensar na escola, nos nossos alunos, nas nossas ações enquanto professores. É incrível como o contexto educacional compõe o nosso dia a dia e nos instiga a refletir sobre cenas que cerceiam a nossa prática!

Na semana passada, por exemplo, precisei ir à biblioteca da instituição na qual trabalho para entregar um livro. E, ao parar na entrada de uma das salas, lembrei-me da minha rotina escolar, durante a noite. E, então, senti falta dos burburinhos nos corredores, do cumprimento alegre daqueles que chegam atrasados e dizem: E aí, profe?, e, ainda, da manifestação carinhosa de alguns alunos, quando afirmam: Profe, a senhora está bem cansada hoje. Por isso, acredito que os alunos fazem parte da nossa construção docente, encantando-nos! São eles que caminham ao nosso lado, impulsionando-nos a acreditar para transformar! Nesse sentido, é importante nos prepararmos, agora, não só para um novo ano letivo que se inicia, mas também para receber o outro.

Bom, é fácil dizer que é importante se preparar, porém, na realidade, como isso funciona? Não há uma receita. Existem orientações, experiências e vivências que, a cada ano, podem nos auxiliar a (re)pensar a prática que envolve o saber e o fazer. E, seguindo uma dinâmica baseada na empatia, procuro recomeçar, pautando-me no acolhimento. Escolhi, então, receber o outro de braços abertos, ouvir e acreditar que podemos fazer a diferença!

Assim, penso que a nossa postura enquanto professores transformadores já se inicia no primeiro dia de aula, quando os alunos começam a se apresentar e a falar um pouco da sua história. Primeiramente, falam seus nomes, sobre sua formação, o que gostam ou não de fazer, de ler; contam o que esperam da disciplina, as expectativas naquela instituição educacional. Nesse momento, tão corriqueiro e, ao mesmo tempo, tão mágico, temos a oportunidade de exercitar o nosso olhar e o nosso ouvir. É nesse instante de interlocução que podemos fazer com que o outro se reconheça, isto é, que ele perceba a importância da sua história, para aquelas pessoas, naquele lugar. Aqui, se inicia uma relação de mais confiança entre aluno e professor.

A caminho das linhas finais, deixo os meus anseios para o nosso ano: que possamos verbalizar mais as nossas histórias, as nossas vivências, e, com elas, (re)aprender.

Referência:

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à pratica educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

(Eu sou Maria Alzira Leite, professora transformadora, pesquisadora de temas que envolvem discursos de/sobre professores. Atualmente, estou como docente no Programa de Pós-graduação do Centro Universitário Ritter dos Reis – UniRitter, em Porto Alegre-RS.)