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COLUNA DA MAISA DE FREITAS: Professora, hoje vai ter sabatina?

Texto 3

Não me recordo quando e onde eu ouvi este termo pela primeira vez, “sabatina”, mas, recentemente, ele tem sido muito pronunciado em minhas aulas. Ele possui vários significados, de maneira que um deles refere-se à recapitulação de determinadas lições, realizada por meio de perguntas e respostas feitas oralmente. Resolvi adaptar esta prática da sabatina como uma das minhas formas de avaliar nas aulas de Geografia. Compartilho com vocês a experiência com alunos do Ensino Fundamental II.

Essa experiência partiu da reflexão das diversas formas que existem para avaliar os nossos estudantes. De certa forma, ainda é latente o senso de que a avaliação é uma finalidade e não um processo, ou seja, em muitos casos, dá-se prioridade apenas para avaliações que ocorrem ao final de cada bimestre. Nas universidade, esse processo também se reproduz, haja vista os “finais de período” serem tão tensos para os estudantes de graduação.

Pensando sobre isso, encontrei na sabatina uma alternativa de avaliação que tem surtido alguns resultados positivos (apesar do nome estranho e inquisidor). Pedi aos alunos que se reunissem em grupos de até cinco pessoas e que deixassem sobre a mesa apenas o caderno para consulta. Em seguida, cada grupo deveria destacar uma folha e identificá-la com os nomes dos integrantes e a turma. As questões seriam ditas por mim, ao passo que os representantes de cada grupo apenas deveriam colocar, na folha, as respostas. O conteúdo das questões tinha relação direta com os conteúdos trabalhados nas aulas anteriores.

As respostas seriam cronometradas, de modo que, dentro do tempo disponível, o representante deveria responder com a ajuda dos colegas e, logo em seguida, depositar a folha em alguma mesa estrategicamente colocada na sala. Findado o tempo, eu recolheria as folhas, faria as correções, devolveria para os grupos e reiniciaria o processo com uma nova pergunta. Pontuaria aqueles grupos que acertassem as respostas.

Por que não podia usar o livro, apenas o caderno? Porque a intenção era revisitar as anotações de aula e as atividades realizadas em sala. A ideia era ressignificar o caderno, já que muitos alunos (e, de certa forma, nós, professores, também), às vezes, os utilizam como “depósitos de informações” e não como uma forma de revisar conteúdos. Professora, já que não pode usar o livro, eu vou fazer um resumo do capítulo no caderno e trazer para a aula! Excelente também!

Por que em grupos? Porque umas das melhores formas de aprender é compartilhando conhecimento com os colegas. Quando não existia a colaboração de todos, certamente, alguns reclamavam. Por que as questões são cronometradas? Porque a ideia é trabalhar a concentração e a pesquisa de maneira objetiva. Se os alunos não se dão conta do que anotam, levam muito mais tempo para achar as respostas.

Ao contrário do que poderia parecer, tornou-se um momento divertido o ato de correr a tempo para levar a folha até a mesa e a atenção dada à correção das respostas, tornando a sabatina uma forma de brincadeira. Muitas das falas que ainda ouço quando chego na sala: Professora, hoje vai ter sabatina?, Sabatina é legal!, Na próxima aula, a gente vai continuar?, Até que não é difícil.

Esta prática não exclui a importância dos outros processos avaliativos, sobretudo a avaliação no fim do bimestre. Ela também apresenta as suas lacunas, como, por exemplo, a adesão 100% dos alunos, pois nem todos gostam de participar. Alguns, inclusive, têm mais dificuldades de trabalharem em grupo. Contudo, ela tem sido uma alternativa de avaliação em um ambiente onde os recursos impressos, digitais e multimídias ainda são escassos para trabalharmos e avaliarmos os estudantes. É um dos poucos momentos em que eu percebo a turma mais motivada. Para melhorar ainda mais, sugestões são bem-vindas!

(Eu sou a Maisa de Freitas, colunista da rede Professores transformadores. Sou professora de Geografia e mestra em Educação. Atuo na rede pública de ensino e acredito que pequenas ações realizadas em parceria possuem um grande poder transformador.)