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COLUNA DA GISELE MAGALHÃES: O jogo teatral e suas contribuições na educação inclusiva

Texto 3

Uma das tarefas fundamentais da educação inclusiva nas escolas é o processo de socialização dos estudantes com deficiência com os demais estudantes, assim como o reconhecimento de regras e condutas, o auxílio na resolução de problemas/conflitos comuns ao cotidiano, no autoconhecimento, o respeito ao outro etc. Penso no jogo teatral como uma forma lúdica de alcançar tais objetivos que permitirão, entre outros, um maior desenvolvimento desses indivíduos em seus ciclos sociais.

 

A escola é o reflexo da sociedade e também é o local onde o sujeito é instruído nas diferentes linguagens: Exatas, Biológicas e Humanas. Um lugar, em sua essência, dedicado ao estudo, ao saber, à construção de conhecimento, onde ocorre o primeiro contato social da criança fora do ambiente familiar e no qual ela terá que aprender a viver em meio à diversidade das relações, dos sujeitos, dos saberes e dos deveres. Esse contato não deve ser deixado “ao acaso”, é preciso se pensar na educação para a diversidade, na diversidade das relações, culturas, gêneros, religiões, saberes, costumes, genes, entre outros. É importante que a escola busque, cada vez mais, ser um ambiente de inclusão onde, na prática, seus sujeitos aprendam a conviver e a respeitar as diferenças.

 

Faz-se necessário trabalhar exaustivamente para a construção de uma cultura inclusiva dentro do ambiente escolar e que se refletirá na sociedade como um todo. As ações devem acontecer na prática e não apenas no discurso, no papel. É preciso construir e reconstruir sempre que for preciso.

 

O teatro permite espaço para experiências em diferentes áreas, com diversos recursos que podem colocar em foco as relações e as projeções subjetivas através dos jogos teatrais, que podem ser sensoriais, corporais, sonoros etc. Apesar de toda sua diversidade, há elementos comuns: regras e objetivo.

 

Durante o jogo, na ânsia de atingir o objetivo, as diferenças dos jogadores tendem a perder a importância e é nesse exato momento que o aluno encontra espaço para a expressão subjetiva, para a projeção de suas vivências em sociedade e para o aprendizado a partir do lúdico. A natureza do jogo, se pensarmos bem, é inclusiva, pois promove a homogeneidade em indivíduos heterogêneos que buscam o mesmo objetivo. No jogo, todos podem usar sua criatividade como forma de ensino e aprendizado, independentemente de dificuldades especiais, sejam elas físicas ou mentais.

 

Na construção de uma escola que acolha e respeite o direito de todos os sujeitos e para que estes possam expressar suas diferenças, o jogo teatral é uma ferramenta que reúne os indivíduos em prol de um objetivo: a conclusão do jogo.

 

Ao tirar o foco da deficiência, ela é minimizada. Isso possibilita que o estudante com necessidades educacionais especiais, dentro de um ambiente tecnicamente seguro, explore diversas situações do convívio social que o preparem para viver nessa sociedade da maneira mais ativa possível, e não à sua margem.

 

Tão importante quanto trabalhar o jogo, para o educador que irá direcioná-lo, é não ficar preso a ele. Durante as práticas, os jogos serão construídos e destruídos continuamente, a depender do grupo. Ao próprio estudante com deficiência, poderá ser dada, em determinado momento, a tarefa de conduzir um jogo que tenha sido trabalhado anteriormente. Ou seja, o jogo é apenas uma parte do processo. É a metodologia do educador que fará a diferença nos processos de inclusão e de ensino e aprendizagem dos estudantes com deficiência na sala regular.

 

Diante de tantas experiências que tive na sala de aula trabalhando com jogos, ressalto as palavras de um estudante de 13 anos com deficiência intelectual que não pode esperar o término do jogo para dizer o que sentiu: “Nossa! Parece que eu sou igual a todo mundo”. Essa e outras vivências relatarei nos próximos textos. Venham comigo, por uma educação mais humana, solidária e inclusiva.

(Sou a Gisele Magalhães. Mulher, negra, mãe, artista, produtora cultural e professora de arte. Pertenço aos 0,1%, segundo o censo do MEC, de 2013, de professores da rede básica de ensino formados em Teatro e acredito na força dessa arte na formação do indivíduo e construção de sua autonomia.)