Voltar ao site

COLUNA DA GISELE MAGALHÃES: Diário de bordo: uma ferramenta na qual acredito

Texto 6

Carrego muito de todos os professores que passaram por minha vida escolar, na graduação e na pós-graduação e, até mesmo, dos colegas de profissão que admiro.

Como professora de Arte, indago, todos os dias, qual o propósito desse conteúdo em sala de aula. Qual é a habilidade que busco ensinar e como irei avaliar os alunos? A Arte na escola não existe para formar artistas, mas para sacudir consciências e, diante disso, o diário de bordo, que me foi apresentado por uma grande mestra durante a graduação, é uma ferramenta eficaz, pois é único e avalia o processo individual do aluno por ele mesmo.

Trata-se do caderno de Arte que recebe este nome porque, da mesma forma que o comandante de um navio deve relatar todas as ocorrências de uma viagem, esta tarefa é dada ao aluno durante o ano letivo: relatar suas experiências em Arte. Essas, por sua vez, incluem relatos reflexivos de cada aula, seja ela teórica ou prática, pesquisas e qualquer vivência extracurricular em Arte, como ir a exposições, peças, assistir a determinados filmes, leitura de livros sugeridos, entre outros.

As atividades extracurriculares não são obrigatórias, mas somam um ponto na média final e são uma forma de incentivar os alunos a buscarem instrumentos de arte e cultura durante o seu cotidiano.

Teoricamente, o diário de bordo é maravilhoso, pois sua essência está na liberdade de expressão e na reflexão livre sobre os conteúdos apreendidos nas aulas. Quem o faz tem nota, mas e aqueles que se negam? Que nem sequer tentam fazê-lo?

Na prática, tenho me deparado com barreiras que não previ e a maior delas são alguns alunos desinteressados que estão habituados a copiar, sem reflexão alguma e que rejeitam essa liberdade. Querem giz, lousa, conteúdos, questões. Alguns preferem prova ou o pesadelo de qualquer professor de Arte: desenho livre. Querem aquilo a que já estão acostumados. Felizmente, não são todos, embora ainda sejam a maioria. No entanto, ao longo desses seis anos de trabalho, percebo que vale a pena o esforço, pois, quando o aluno abraça a ideia e entende o propósito desse mecanismo, é lindo de se ver! São como rosas desabrochando... Um espetáculo à parte! A correção, se assim a posso chamar, é trabalhosa e demanda tempo, mas, pelos relatos, consigo perceber o aluno de uma forma que nem sempre ele se revela na aula, também é possível fazer uma autoavaliação das aulas e da minha didática. E sempre encontro surpresas interessantes.

Aula após aula, vamos ganhando confiança uns nos outros, até que consigamos romper nossas barreiras. Para muitos, é essa escrita reflexiva. Para outros, é aprender a ouvir e dar chance para o outro se expressar. O trabalho, que começa individualmente, cada um no seu caderno, torna-se coletivo quando compreendemos quem somos e que estamos mais propensos a escutar o outro e, assim, nos expressarmos sem medo.

(Sou a Gisele Magalhães. Mulher, negra, mãe, artista, produtora cultural e professora de arte. Pertenço aos 0,1%, segundo o censo do MEC, de 2013, de professores da rede básica de ensino formados em Teatro e acredito na força dessa arte na formação do indivíduo e construção de sua autonomia.)

broken image
broken image
broken image
broken image
broken image